Esta casa, que inicialmente recebeu a denominação de Chalé, sempre nos encantou e guarda a história de nossa família, da qual tanto nos orgulhamos. A proximidade de cada familiar com nossa avó e nossas tias era bem diferente. Para uns, era sua própria casa. Para outros, por viverem com simplicidade na roça, ir ao Chalé e estar com nossa avó e nossas tias era quase uma epopéia, ao cumprir o compromisso de visitá-las por recomendação de nossos pais. Ao chegar descalço diante daquela escada, ficávamos assustados por sua dimensão, brilho e limpeza, e todo cuidado era pouco. Subir cada degrau pé ante-pé, para evitar barulho e queda. Com passos lentos, íamos adentrando naquele casarão e, ao avistar nossa avó e nossas tias, o cumprimento era singelo: bença vó, bença tia, e para nós, estava cumprida a missão. Com surpresa éramos convidados para entrar e sentar junto à mesa da cozinha onde era servido, para nosso deleite, biscoito champanhe e guaraná. Com o passar dos anos as visitas foram se tornando naturais e as conversas se prolongando, falando de tudo, sobre tudo. Aos poucos fomos descobrindo a cultura e os valores de cada uma, até então por nós ignorados, sendo um estímulo para irmos em busca de nossa origem e nos alegrarmos pela nobreza e valores de nossos antepassados e pela história do Chalé.
Nosso tio avô, Padre Ernesto Augusto Lages possuidor de grande terreno que se estendia até o córrego, iniciou a construção, transferindo-a posteriormente para seu pai Juca Lages e, por herança, a José Coelho de Araújo Lages, nosso avô, cujo ascendente mais velho, nasceu em Conceição em 1770. Durante este longo tempo muitos familiares tiveram grande participação comercial, rural e política, influindo nos destinos de Conceição.
Nosso avô nasceu na Fazenda do Engenho, majestosa propriedade, onde por acaso, conheceu Ana Castorina Jorge que regressava de Diamantina a cavalo, após ter concluído o curso de normalista. O que ela desejava, era apenas um descanso, mas teve a oportunidade de se encantar com aquele belo jovem que ali residia.
Ela era filha de Joaquim Rodrigues Jorge e Maria Castorina Jorge que residiam em Rio do Peixe, município de Conceição e tiveram a lucidez de se transferirem para Diamantina, com o objetivo de possibilitar a educação dos filhos.
O cupido falou mais alto, enamoraram, casaram e vieram morar neste casarão, constituindo uma das famílias mais importantes de Conceição.
Nana, como era chamada, foi a primeira professora formada a dar aulas em Conceição, e suas filhas Zenaide, Salica, Lourdes e Amparo foram suas alunas e, por sua inspiração, se tornaram também professoras, contribuindo para o enriquecimento cultural da cidade. Os filhos Zezé, Afrânio, Hely, Maurílio, Zenaide, Salica, Lourdes e Amparo tiveram importante atuação social e rural. Cada um de nós, descendente da família Jorge Lages, encontrou seu caminho, facilitado pelos bons fluidos da herança genética e, ao retornar agora neste Casarão, nós nos sentimos encantados e satisfeitos ao ver a antiga casa de nossos avós sediar a Secretaria de Cultura e Patrimônio Histórico de Conceição, objetivo condizente com a profícua atividade desenvolvida por nossa família.
É com prazer que registramos nosso reconhecimento ao ex-prefeito Reinaldo Cesar Lima Guimarães pela iniciativa de desapropriar o casarão do século XIX e ao prefeito José Fernando Aparecido de Oliveira por sua lucidez em reconstruí-lo com esmero, transformando-o na sede da Secretaria de Cultura e Patrimônio Histórico de Conceição. Agradecemos à arquiteta Silvana Lages o grande interesse e minucioso trabalho desenvolvido pela Secretária de Cultura e Patrimônio Histórico.
Descendentes da família Jorge Lages.